quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Queimei tuas coisas.

Um calor infernal tomou conta do porão.
Agonizante.
Claustrofóbico.
O fogo brilhava e refletia nos meus olhos, mais escuros que de costume.
Dilatados.
Amarelos.
As fotos queimavam junto, nossas fotos, as fotos que tiramos nos seus ditos melhores dias de sua vida.
Mentirosas.
Precipitadas.
Tuas cartas embolavam e dançavam sozinhas e eram comidas por um feixe de luz laranja, como se dançassem num ritual de esquecimento, uma simpatia antiga que herdaram das árvores genealógicas do teu passado, colocado ali por tuas mãos vazias e ressecadas que tanto passaram pela minha nuca em movimentos desiguais e desesperados; um amontoado de sentimentos confusos escritos, fotografados, presentes, embrulhados, com um laço vermelho e azul. Teus sonhados significados deprimentes, o verde dos teus olhos ficando azul e seu rosto pálido avermelhando e regurgitando palavras.
O fogo ardendo nas tuas costas, tua pele branca acinzentando, teu desespero por oxigênio, tua corrente sanguínea evaporando e invadindo meus pulmões como perfume, tuas sobrancelhas loucas de agonia, tua vontade de me fazer sofrer,
Ata-me, acorrenta-me, me tortura, prende-me na tua nuca e me deixa te sufocar, mais novo monte de cinzas, e pegar de volta o ar que roubastes de mim!

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